9 de agosto de 2009

Peça para ninguém






Escrevi esta peça
Sem palavras
Encenei-a
Sem palco
Num silêncio
Só meu
Abri
Fechei o pano
Não ouvi palmas
Só soluços
Eram os meus
Os do desengano

8 de agosto de 2009

Esta saudade
Tolhe-me
Esta vontade de morrer
Acolhe-me

6 de agosto de 2009

Nada é impossível de mudar

Bertolt Brecht

Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

...

Parei-me inteira
neste monte de pó
que o meu sopro
sem ar não varre...
Tombei-me neste vazio
sombrio e frio
coberto de dor
e saudade...

30

António Franco Alexandre

Já a luz se apagou do chão do mundo,
deixei de ser mortal a noite inteira;
ofensa grave a minha, que tentei
misturar-me aos duendes na floresta.
De máscara perfeita, e corpo ausente,
a todos enganei, e ninguém nunca
saberia que ainda permaneço
deste lado do tempo onde sou gente.
Não fora o gesto humano de querer-te
como quem, tendo sede, vê na água
o reflexo da mão que a oferece,
seria folha de árvore ou sério gnomo
absorto no silêncio de uma rima
onde a morte cessasse para sempre.